A cerveja estrangeira foi das mais afectadas pela crise em Angola e, no terceiro trimestre de 2016, praticamente deixou de ser importada, não figurando entre os produtos mais comprados ao exterior. Também a importação de veículos foi de 17 por dia, em média, no terceiro trimestre do ano passado, contra os 351 que comprou diariamente no mesmo período de 2014.
Segundo o mais recente relatório do Conselho Nacional de Carregadores (CNC) – tutelado pelo Ministério dos Transportes e que coordena as operações de comércio e transporte marítimo internacionais -, entre Julho e Setembro de 2016, a quantidade de cerveja importada por Angola não foi suficiente para integrar a lista dos 100 tipos de produtos mais importados.
Só no terceiro trimestre de 2014, antes da crise gerada pela quebra na cotação do barril de crude, Angola importou, segundo o CNC, 63.727 toneladas de cerveja, sobretudo de Portugal. Desta forma, a importação de cerveja representou 2,24% de todas as compras feitas por Angola no exterior, naquele período de 2014, figurando na nona posição da lista dos produtos mais importados pelo país.
No primeiro trimestre de 2016, a importação de cervejas de malte já tinha descido para 8.101 toneladas, acentuando as quebras nos meses seguintes, devido às dificuldades na obtenção de divisas pelos importadores.
Dificuldades compensadas pelo aumento na produção interna de cerveja, nomeadamente com novas marcas produzidas em Angola. É o caso da cerveja da marca Bela, produzida pela Lowenda Brewery Company, do grupo China International Fund (CIF), que aumentou em 2015 a produção nacional, reforçada já em 2016 com a marca Tigra, do grupo angolano Refriango, líder nacional no sector das bebidas.
No final de 2016, foi a vez de a portuguesa Sagres passar a ser produzida em Luanda, através da Sociedade de Distribuição de Bebidas de Angola (SODIBA), da empresária (adivinhem, adivinhem!)… Isabel dos Santos.
A importação de bebidas, segundo dados do executivo há 38 anos dirigido pela pai de Isabel dos Santos, cifrava-se anualmente em cerca de 400 milhões de dólares (377 milhões de euros) antes da crise, mais de metade proveniente de exportações de empresas portuguesas, nomeadamente cerveja.
Contudo, tendo em conta a capacidade instalada das fábricas nacionais, que já então não estava a ser utilizada, e como forma de dinamizar a produção local, o Governo angolano anunciou para 2015 um sistema de quotas à importação de bebidas, o qual não chegou a ser implementado.
Entretanto, a crise generalizada e a falta de divisas acabaram por reduzir fortemente, e de forma natural, as compras ao exterior. No caso das cervejeiras portuguesas, ainda com as promessas de construção de fábricas próprias em Angola por concretizar.
No terceiro trimestre de 2016, Angola comprou 5.797 toneladas de vinho (38º produto mais importado) ao exterior – em que Portugal é o maior fornecedor nacional -, o que compara com as 30.609 toneladas (16ª posição) do terceiro trimestre de 2014, antes do início da crise petrolífera, também afectada nomeadamente pela dificuldade na obtenção de divisas.
Noutra frente, angola importou 17 veículos por dia, em média, no terceiro trimestre do ano passado, contra os 351 que comprou diariamente no mesmo período de 2014. Entre Julho e Setembro de 2016 o país comprou apenas 1.634 veículos, um quarto dos quais a Itália.
No terceiro trimestre de 2014, antes do início da crise, Angola importou 32.309 veículos, passando por isso de uma média diária, em iguais períodos, de 351 para 17 viaturas importadas.
Além das implicações económicas e financeiras, com o Estado a perder metade das receitas petrolíferas entre 2015 e 2016, a crise levou à restrição no acesso a divisas, necessárias à importação de todos os produtos cuja produção é feita no estrangeiro.
Neste cenário, passou a ser visível em Angola concessionários sem viaturas novas para venda e as poucas existentes a subir de preço todos os meses, em função de uma inflação que chegou a ultrapassar os 40% entre Janeiro e Dezembro de 2016, perante o alerta dos empresários do sector para o momento crítico vivido.
Entre Julho e Setembro últimos, Angola comprou a Portugal apenas 64 viaturas novas (8ª origem nas importações de veículos), atrás de países como a África do Sul (79), China (84), Índia (93), Bélgica (112), Emirados Árabes Unidos (170), Turquia (274) e Itália (417), que lidera a tabela.
O porto de Luanda concentrou as descargas de viaturas em Angola naquele período, recebendo 1.563 das 1.634 viaturas que o país conseguiu importar no mesmo trimestre, ficando os restantes para os portos de Cabinda, Namibe e Lobito.
Brinde renovado à santa… Isabel
Eis o que o Folha 8 escreveu a 13 de Dezembro de 2016: “A nova fábrica de Isabel dos Santos (sim, é a filha de Eduardo dos Santos, PCA da Sonangol e também dona de tudo quanto dá dinheiro em Angola) traz a Sagres para Angola e vai produzir a Luandina.
A nova fábrica da princesa herdeira do trono vai produzir a partir de 2017, em Luanda, a cerveja Sagres e uma nova marca angolana também de cerveja. A Sociedade de Distribuição de Bebidas de Angola (SODIBA) é a mais nova empresa de produção e distribuição de bebidas em Angola foi apresentada em conferência de imprensa, num projecto cujo investimento, maioritariamente angolano, ascende a 150 milhões de dólares.
Localizado no Polo Industrial do Bom Jesus, a 60 quilómetros de Luanda, este complexo industrial conta com uma área total de 40 hectares e uma capacidade de produção instalada de 144 milhões de litros/ano de cerveja, extensível até 200 milhões de litros, sendo que a partir de Janeiro de 2017 arranca com a produção e distribuição da cerveja portuguesa Sagres.
O director executivo da sociedade, José Carlos Beato, explicou que “a capacidade e qualidade produtiva” angolana pode levar o país a posicionar-se entre os grandes produtores mundiais.
“Nós vamos ser uma empresa de produção e distribuição de bebidas que no fundo espera corresponder as exigências do consumidor angolano. Consideramos que ainda há um espaço por preencher naquilo que é o consumo da cerveja em Angola. É um projecto que tem uma base industrial e que pela capacidade e qualidade produtiva de Angola, tem um potencial para se posicionar junto dos grandes produtores mundiais”, explicou José Carlos Beato sem referir o potencial de consumo que, num universo de quase 26 milhões de potenciais consumidores, 20 milhões são pobres… mas bebem.
A fábrica está praticamente concluída e conta numa primeira fase com 210 colaboradores, decorrendo actualmente testes de operação. Envolve duas linhas de enchimento, uma com capacidade para 50.000 garrafas por hora e outra linha para o enchimento de latas com a mesma capacidade.
Apesar de numa primeira fase ter como foco a produção e distribuição de cerveja, é pretensão igualmente da SODIBA cumprir a estratégia multimarca e abraçar segmentos como as águas engarrafadas, refrigerantes, polpas e concentrados, bem como bebidas espirituosas, entre outras.
“Esta é a meta e naturalmente devemos evoluir ainda durante o próximo ano para o outro segmento de bebidas”, afirmou José Carlos Beato.
Trata-se de um investimento promovido por Isabel dos Santos, empresária, herdeira do trono, multimilionária, filha do chefe de Estado angolano (há 37 anos no poder sem nunca ter sido nominalmente eleito), juntamente com Sindika Dokolo, o seu marido.
“É uma empresa angolana que reúne experiências multidisciplinares e internacionais, cujo projecto é baseado na formação de quadros”, enfatizou o responsável.
Igualmente durante o primeiro semestre de 2017 a fábrica deverá colocar no mercado uma nova cerveja “100% angolana”. “A cerveja Luandina será nossa primeira produção nacional. Vamos começar com a internacional Sagres e de seguida uma cerveja com um ADN 100% angolano, que é a Luandina e estou em crer que a mesma estará ao nível do exigente consumidor angolano”, defendeu José Carlos Beato.
Estranha-se a escolha do nome Luandina porque, fazendo jus à honorabilidade da patrona da fábrica, seria mais do que justo chamar-se Isabelinha (ou algo parecido).
Seja como for, registe-se (com agrado) o esforço de Isabel dos Santos para alavancar a economia do reino que tão bem é gerido por sua majestade o rei seu pai, José Eduardo dos Santos, bem como para manter Angola no patamar superior dos países mais corruptos do mundo e, igualmente, ser o país com o maior índice de mortalidade infantil do mundo.”
Folha 8 com Lusa